A inteligência artificial se tornou o centro da corrida tecnológica global. Em poucos anos, os investimentos em IA cresceram de forma exponencial, impulsionados por promessas de automação total, produtividade ilimitada e transformação de setores inteiros. A Gartner, Inc. prevê que os gastos mundiais com Generative Artificial Intelligence (Gen AI) devem atingir US$ 644 bilhões em 2025, o que representa um crescimento de 76,4% sobre 2024

Contudo, assim como aconteceu com a bolha das ponto-com, o ritmo acelerado de capital e expectativas ultrapassa, e muito, a maturidade real das tecnologias envolvidas. Hoje, empresas de todos os tamanhos investem em IA sem compreender completamente seus limites, custos e dependências. Essa euforia cria um cenário semelhante ao dos anos 2000, quando milhares de startups da internet desapareceram após o pico de expectativas. 

No entanto, uma diferença crucial está em quem fornece a base para tudo isso: os provedores de nuvem.

O ciclo inevitável da euforia tecnológica

Para entender o que está prestes a acontecer, é essencial observar o Gartner Hype Cycle, modelo que explica o comportamento típico de novas tecnologias, do surgimento à maturidade. Ele mostra como as inovações passam por cinco estágios: Gatilho da inovação, Pico de expectativas infladas, Vale da desilusão, Rampa de iluminação e, finalmente, o Platô de produtividade.

De forma prática, o Gartner Hype Cycle revela que cada tecnologia percorre uma curva previsível entre hype e realidade. No início, a mídia e o mercado criam uma euforia desproporcional. Em seguida, vêm as frustrações, os cortes de investimento e o amadurecimento técnico que, para poucos, resulta em adoção de fato. Esse é o ciclo que define a sobrevivência das inovações.

O que o Hype Cycle 2025 revela sobre investimentos em IA

O Hype Cycle for Artificial Intelligence 2025,  publicado pela Gartner, mostra com clareza que grande parte das tecnologias de IA ainda se encontra nas fases iniciais de desenvolvimento, especialmente áreas emergentes como Inteligência Artificial Geral, Neuro-Symbolic AI, Causal AI e World Models.

A Gartner destaca que apenas alguns segmentos associados à infraestrutura de IA, como serviços em nuvem e plataformas de machine learning, já alcançaram ampla adoção e aplicações comerciais.

Essa diferença é crucial: enquanto muitas aplicações de IA ainda estão distantes da maturidade, a infraestrutura em nuvem se consolida como o pilar que sustenta a transformação digital.

Por que a bolha da IA pode repetir o passado

A semelhança com a bolha das ponto-com é inevitável. No fim dos anos 1990, investidores apostaram em qualquer empresa que tivesse “.com” no nome, sem avaliar fundamentos técnicos ou modelos de negócio sustentáveis. Hoje, percebe-se que o mesmo acontece com a IA. Startups captam milhões prometendo soluções que ainda não existem, enquanto grandes corporações lançam projetos experimentais apenas para não parecerem atrasadas.

Essa corrida produz um mercado inflado e frágil. Dados recentes da CB Insights (2024) mostram que startups de IA captaram mais de US$ 25 bilhões apenas no primeiro semestre de 2024, mesmo sem modelos de negócio claros. Muitos investimentos se concentram em aplicações genéricas, que dependem de modelos de linguagem caros, infraestrutura subutilizada e retornos distantes. Assim, quando o entusiasmo diminuir, boa parte dessas iniciativas não resistirá.

Entretanto, o fracasso das aplicações não significa o fim da inteligência artificial. Significa apenas que o mercado precisará se reorganizar em torno de soluções reais, sustentadas por infraestrutura confiável.

Investimentos em IA e o papel dos provedores de nuvem

Enquanto a maior parte dos investidores busca retorno em promessas, os provedores de nuvem constroem o alicerce do ecossistema. Cada modelo de IA, de chatbots a sistemas generativos complexos, depende de potência computacional, armazenamento distribuído e redes de alta capacidade. Segundo a McKinsey (2024), a corrida global por infraestrutura de IA deve exigir mais de US$ 5 trilhões em investimentos até 2030, impulsionando data centers e provedores de nuvem em todo o mundo. É nesse terreno que a verdadeira oportunidade se encontra.

Ao investir em infraestrutura, os provedores de nuvem tornam-se os protagonistas silenciosos dessa revolução. Eles não competem pela aplicação que “viraliza”, mas pela sustentação de todas elas. Mesmo quando um projeto falha, os dados continuam hospedados, os clusters permanecem ativos e a demanda por processamento cresce.

Além disso, a nuvem oferece o que nenhuma empresa isolada consegue: elasticidade, segurança e integração com plataformas open source de IA. Essa combinação garante que, independentemente das oscilações do mercado, o consumo de recursos cloud siga em alta.

Por que provedores devem se preparar desde já

A década de 2020 marca o ponto de virada. Em 2026, a demanda por ambientes otimizados para IA será maior do que a capacidade instalada atual, mesmo considerando os ajustes pós-bolha. Isso ocorre porque o volume de dados e o uso de modelos pré-treinados continuarão a crescer, impulsionando o consumo de GPU, armazenamento e rede.

Analistas indicam que o crescimento de IA pressionará a infraestrutura com gargalos de energia e espaço nos próximos anos. A Gartner projeta que 40% dos data centers de IA estarão operacionalmente limitados por disponibilidade de energia até 2027, enquanto a Europa já enfrenta escassez de espaço em 2025 apesar da expansão de capacidade. 

Portanto, provedores de serviços que se anteciparem e modernizarem suas nuvens hoje estarão na linha de frente da próxima onda tecnológica. Eles poderão oferecer GPU-as-a-Service, data centers regionais e ambientes preparados para cargas intensivas de IA, tudo com controle de custos e operação automatizada.

Nesse contexto, a aposta certa não é na aplicação de IA, mas no ambiente que viabilize todas elas. É essa a vantagem estratégica que diferencia quem fornece tecnologia de quem apenas a consome.

Conclusão: a base sólida da próxima revolução

A história mostra que a tecnologia sempre passa por ciclos de euforia e correção. No entanto, também mostra que a infraestrutura sobrevive a todas as bolhas. Assim, enquanto muitos investimentos em IA caminham para o fracasso, a nuvem segue como a espinha dorsal da inovação digital.

Os provedores que investirem agora em tecnologia para hospedagem e operação de IA estarão prontos para capturar a demanda crescente que virá, independentemente de quais startups ou modelos prevaleçam. Afinal, quando o hype passar, apenas a base permanecerá.

Alexandro Castelli – Vice-Presidente de Comunicação e Marketing da AbraCloud – Associação Brasileira de Infraestrutura e Serviços Cloud; e Senior Business Advisor da SC Clouds.