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A hora e a vez das mulheres de inovação do agro

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Artigo escrito por Juliana Chini, Gerente de Marketing Sênior Latam na Arable.

O primeiro semestre de 2023 tem trazido diversos temas relevantes e relacionados à inovação no agronegócio. Novas rodadas de investimentos, demissões em massa, receio de uma crise bancária e questões climáticas como prioridades em discussões de fóruns globais. 

São tantos assuntos que fica difícil escolher um para o primeiro artigo da minha coluna na Futurecom. E, ao analisar toda a conjuntura atual, entendo que todos os desafios e oportunidades do momento levam para que seja “a hora e a vez das mulheres de inovação do agro”. Os motivos serão detalhados a seguir. 

A ascensão das mulheres na inovação no agro

O 2º Censo AgTech de 2018, que contemplou uma amostra de 184 agtechs brasileiras, revelou que 38% destas startups não possuíam nenhuma mulher no time e 26% possuíam uma. Ou seja, mais de 60% das agtechs não tinham mulheres no time ou possuíam apenas uma. 

Os anos passaram e o Radar AgTech de 2022 apresentou que 28,7% das 1.703 startups contam com pelo menos uma sócia em sua estrutura de gestão. Embora a porcentagem ainda demonstre a disparidade em relação ao gênero na liderança das agtechs, podemos considerar como um avanço que cinco anos depois do último censo, tenhamos quase 30% na estrutura societária. 

Quando olhamos para a América Latina, uma pesquisa do IDB Lab de 2019 identificou que apenas 11% dos times das 300 startups da amostra possuíam mulheres como co-fundadoras. 

De fato, os números ainda são tímidos e até faltam mais dados para analisar com profundidade. Porém, podemos visualizá-los como um copo meio cheio ao compreender que estamos em um momento de ascensão para as questões de igualdade gênero entrarem como prioridade na governança das agtechs. 

As mulheres do agro precisam de inovação

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 80% das pessoas forçadas a sair de casa por causa das mudanças climáticas são mulheres

Em países em desenvolvimento, as mulheres geralmente são responsáveis por cultivar alimentos e buscar água em famílias vulneráveis economicamente. E, segundo um relatório da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC), com o advento de desastres climáticos, os homens tendem a migrar para os centros urbanos em busca de emprego. Já as mulheres costumam ficar nas áreas rurais para cuidar dos filhos e assumem o comando das lavouras. Tecnologias acessíveis poderiam auxiliá-las na resiliência climática, gestão, acompanhamento do cultivo e obtenção de microcrédito, como o projeto que a Arable desenvolve com a World Food Programme (WFP) e produtoras de Moçambique. 

No escopo do Brasil, segundo o último Censo Agropecuário de 2017 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são proprietárias de apenas 19% das propriedades rurais. Porém, analisando os dados históricos da força de trabalho do setor como um todo, identificamos um avanço.  

Entre 2004 e 2015, enquanto o número de homens atuando no setor do agronegócio diminuiu 11,6%, o total de mulheres trabalhando no agro aumentou 8,3%, ampliando sua participação no mercado de trabalho de 24,1% para 28%. Estes são dados de um estudo sobre as mulheres no mercado de trabalho do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) de 2018. 

No contexto global, segundo a organização Save the Children, mulheres e meninas representam mais de 40% da força de trabalho agrícola e são responsáveis por até 80% da produção de alimentos. E, se tivessem o mesmo acesso a recursos que os homens, poderiam aumentar a produtividade de suas fazendas em 20% a 300% e, consequentemente elevar a produtividade agrícola total de 24,1% a 4% nos países em desenvolvimento, conforme dados da FAO-ONU.

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As mulheres da inovação precisam de investimento

Em geral, homens recebem sete vezes mais investimentos e, em dez anos, as empresas de base tecnológica fundadas por mulheres aumentou de 4,4% para 4,4%, segundo o “Female Founders Report 2021”, estudo elaborado pelo Distrito com a Endeavor e a B2Mamy, que também revelou que mais 60% das fundadoras disseram já terem sido questionadas por investidores se “teriam condições” de tocar o negócio, 45,7% se “conheciam termos técnicos básicos” e 14,2% se a empresa “tem um homem no quadro societário”. Além disso, 72,4% que passaram pelo processo de captação afirmaram terem sofrido assédio moral, principalmente relacionado a questões de gênero e maternidade. 

No contexto global, uma publicação da Harvard Business Review revelou que os investidores se mostram mais propensos a preferir propostas de empreendedores do sexo masculino do que de mulheres. Enquanto as questões para homens giram em torno de vantagens e ganhos do negócio, as mulheres recebem uma abordagem mais preventiva, com foco nas perdas potenciais e na mitigação de riscos.

O resultado: Os aportes de VC em empresas lideradas por mulheres somaram apenas 2% do total investido em 2022, de acordo com o estudo All In: Female Founders in the US Ecossystem do Pitchbook, divulgado pelo Neofeed. 

As mulheres de inovação no agro precisam de oportunidades

Enquanto evoluímos de forma ainda tímida na participação de mulheres na composição de times de inovação no agro, principalmente em agtechs, há inúmeras possibilidades de fomentar as questões de gênero nos processos seletivos, como a criação de vagas afirmativas, lideranças conscientes sobre a importância do tema e empresas que já nascem com a diversidade intrínseca em sua cultura. 

Como exemplo deste último caso, conversei com a Thais Andrade, Head Comercial na Tarken, uma plataforma revolucionária que suporta distribuidores de insumos a gerenciar o ciclo de crédito de ponta a ponta, e está mudando a forma como a Faria Lima, Mato Grosso e outros estados agrícolas se comunicam, ajudando bancos e fundos a avaliarem e entenderem os resultados financeiros dos produtores rurais, tornando a concessão de crédito rápida e mais barata..  

Ao assumir a liderança, a Thais contratou 7 mulheres para o seu time comercial na agtech, sendo destaque em uma matéria no Dia Internacional da Mulher. As vagas não eram afirmativas para mulheres e as candidatas selecionadas foram contratadas por compor o perfil e competência que ela buscava na equipe. E, como não é tão comum ver times comerciais no agro composto inteiramente por mulheres, ela nos conta as motivações que a levaram a esta decisão. 

Juliana: Sabemos que não é tão comum termos times comerciais no agro formados por mulheres. Qual a importância de ter 7 mulheres em um time comercial de uma agtech?

Thais: A formação de um time composto apenas por mulheres não se deve a um movimento de diversidade na Tarken ou a um objetivo pessoal meu, como líder mulher. Na verdade, a Tarken já nasceu com o DNA da diversidade, o que trouxe liberdade para todas as lideranças da empresa colocarem as pessoas certas no lugar certo. E o que queremos dizer com "pessoas certas"? São aquelas que possuem fome por crescimento e possuem competências e habilidades prontas ou em desenvolvimento para embarcar na missão da empresa, independentemente do gênero.

A Tarken é uma empresa jovem, com apenas 1,5 anos de existência, que se propõe que se propõe com a plataforma digital que traz celeridade e inteligência as análises de créditos para serem aprovadas em minutos ao invés de semanas, e gerando o equilíbrio ideal entre alavancagem, inadimplência e crescimento para distribuidores de insumos e indústrias, com as soluções financeiras integradas totalmente off balance.

A empresa possui uma liderança super jovem que está empenhada em construir o negócio em ritmo acelerado. Por isso, é tão importante que a construção seja aberta e que haja espaço para a diversidade de ideias e perspectivas. 

Temos um time super diverso em gênero, com pessoas de diferentes formações em todas as áreas, não só no comercial, área que lidero. Por exemplo, a Brenda Verch, graduanda em engenharia de petróleo, faz parte do time de marketing e é responsável pelo desenvolvimento da parte de inteligência de mercado, e a Bia Esteves,líder do time de marketing. Mulheres como elas, e a Mahany, mãe do Matheo, no qual trabalho lado a lado no time comercial, fazem essa jornada valer ainda mais a pena. Elas quebram barreiras diariamente, são grande fontes de inspiração para nós mulheres.

Acreditamos que a diversidade traz diferentes perspectivas para a resolução de problemas, o que pode levar a construções mais criativas, inovadoras e ágeis, o que é fundamental para o sucesso no segmento de mercado no qual estamos inseridos. Por isso, valorizamos a construção de equipes diversas e olhamos para as competências e habilidades de cada indivíduo como nosso maior ativo, independentemente de seu gênero. Essa abordagem não só é mais justa e igualitária, mas também é benéfica para o negócio como um todo.

Juliana: é comum ouvir que é difícil contratar mulheres em tecnologia no agro porque é difícil achar profissionais com este perfil. Isso é verdade?

Thais: Com base nos dados fornecidos pelo CONFEA até 2021, foi observado que a presença de homens na área de agronomia é significativamente maior do que a presença de mulheres, representando cerca de 76% e 24%, respectivamente. Apesar dessa disparidade de gênero, é importante destacar que ao longo dos últimos anos a presença feminina na profissão tem aumentado gradualmente, o que pode ser considerado uma tendência positiva em relação à diversidade e à igualdade de gênero. 

E, embora haja avanços, ainda é incomum encontrar equipes comerciais majoritariamente formadas por mulheres em empresas do setor agro. Isso pode estar relacionado à falta de promoção da diversidade e da igualdade de gênero no agronegócio, bem como a estereótipos que associam a mulher a vulnerabilidades e limitações para exercer determinadas atividades.

Juliana: Como você acha que as agtechs podem contribuir com o empoderamento econômico das mulheres na América Latina e principalmente no Brasil?

Thais: Formar e liderar um time comercial composto inteiramente por mulheres em uma agtech é uma iniciativa relevante para promover a igualdade de oportunidades no setor agro e tech, para desafiar estereótipos de gênero em relação às capacidades das mulheres em ambas as áreas. 

No time comercial da Tarken, por exemplo, são oito mulheres com jornadas e experiências de campo diversas. Essa iniciativa é especialmente importante em um setor que ainda enfrenta desafios significativos em relação à promoção da diversidade e da igualdade de gênero. Isso nos difere de grandes empresas que ainda estão no estágio inicial da conscientização, promovendo eventos para discutir a importância da diversidade. Contribuímos ativamente para esse movimento entregando posições de liderança e oportunidades iguais para mulheres na formação de novos talentos. Destaco que a inclusão das mulheres no setor agro não deve ser vista como uma questão feminina, mas sim como uma questão de desenvolvimento econômico e de inovação.

Com 1.703 empresas catalogadas pelo Radar Agtech, fica evidente que as startups possuem em mãos um grande canal para acelerar o movimento em direção à diversidade e à igualdade de gênero. A diversidade de perspectivas e habilidades que uma equipe diversa pode oferecer pode contribuir significativamente para a inovação e a solução de problemas complexos, além de proporcionar um ambiente de trabalho mais inclusivo e saudável para todos os colaboradores, independentemente de gênero ou outras características pessoais.

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As mulheres da inovação e do agro mostram que esse é o momento

Há uma demanda de mulheres produtoras por inovação desde o acesso ao crédito, compra de insumos, atividades produtivas, resiliência climática, gestão da produtividade, comercialização, logística e rastreabilidade. 

Ao analisar a cadeia produtiva do agro como um todo, mulheres presentes em todos elos necessitam de tecnologia acessível e que dê resultado. Do “antes da porteira” nas empresas de insumos, genética e maquinários, às fazendas e cooperativas, passando pelas indústria e varejo. 

Do lado da oferta de tecnologia, temos cada vez mais mulheres ingressando em times de inovação de corporações, em startups e demandando investimentos para não só suportar como impulsionar o crescimento. Também vemos cada vez mais empresas sendo exemplos de diversidade, do processo seletivo de estágio à composição de C-levels e conselheiros.

Agora é a hora e vez das mulheres de inovação do agro. Já conquistamos muito e ainda há muito para conquistar, mas temos o desafio e oportunidade evidentes para melhorarmos todos estes números e a equidade em todas as esferas.

* Juliana Chini é Economista formada na Esalq-USP e Mestre em Gestão Internacional pela ESPM, com mais de 12 anos de experiência na área de marketing e inovação em alimentos e agronegócios

Juliana Chini é uma das painelistas do Meetup Futurecom Agro, no dia 16 de maio, terça-feira, às 16 horas, online. Faça aqui a sua inscrição gratuita!

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