Basicamente, eu resumiria:

“O setor está vivendo a mais importante transição desde a privatização dos serviços de telecomunicações, que à época foi também decorrência de um processo de disrupção tecnológica, com a digitalização e o advento da internet”.

Declarações, como a do novo presidente e conselheiro delegado da Telefónica, Marc Murtra, ao pedir que as autoridades europeias relaxem a regulação para fomentar a consolidação do setor, representa um sinal muito claro sobre o momento que a indústria vive de reposicionamento e realinhamento de forças.

Há alguns anos temos falado de tecnologias disruptivas, habilitadoras de mudanças no perfil de empresas e consumidores, levando à necessidade da transformação das operadoras de telecomunicações (“Telcos”) em empresas de tecnologia (“TechCos”). Não se trata de algo simples de ser aceito pelas operadoras de telecomunicações, diante da sua tradicional capacidade de oferecer ao mercado soluções competitivas, conquistando espaços e mantendo o seu poder significativo de mercado.

Afinal de contas, as operadoras venceram a digitalização e as BBS (Bulletin Board System) dos primórdios da internet, que ofereciam um ambiente virtual com modems conectados através de linhas telefônicas fixas. Superaram os desafios da convergência TIC e ainda encontraram os meios para engolir as empresas de TV a cabo, que surgiam como dominantes para os serviços em banda larga.

Portanto, por que tamanha preocupação com o futuro? E, talvez a resposta esteja em algo muito presente nesta edição do MWC, e que irá alterar profundamente o modelo de negócios e investimentos, ou seja, a ascensão meteórica dos agentes de IA, que deverão nortear a experiência digital dos clientes em geral.

Um agente de inteligência artificial (“AI Agent”) é um software que pode interagir com seu ambiente, coletar dados e usar os dados para realizar tarefas autodeterminadas para atingir objetivos predeterminados, parecendo “sentir, pensar, agir” de forma autônoma. O agente de IA escolhe de forma independente as melhores ações necessárias para atingir essas metas, muitas vezes, interagindo com outros agentes, sem que humanos sejam envolvidos no processo, podendo vir a substituir sites ou aplicativos, como o principal canal de interação digital das empresas.

Antes desta edição do MWC, a próxima geração 6G era denominada a internet dos sentidos, por poder reunir uma série de dispositivos com interação com o ambiente muito além das imagens e sons, porém muito se fala agora sobre uma “internet de agentes”, pois a interação seria feita através de agentes de IA, que traduziriam para os humanos as demandas recebidas, transformando as indústrias com uma “eficiência autônoma”. Isto traz uma revolução no modelo de negócio tradicional das Telcos, ao simplificar fluxos de trabalho, melhorar interações e acelerar a inovação em setores como atendimento ao cliente e marketing.

Em seu relatório “Telco-to-Techco Strategies Benchmark” de 2024, a Omdia, empresa do Grupo Informa, empresa de consultoria e analista independente, especializada em Telecomunicações, Mídia e Tecnologia, classificou a Telefonica como a operadora do Ocidente mais bem posicionada (e a quarta globalmente) na oferta de serviços digitais inovadores, segurança cibernética, computação em nuvem, IoT, Big Data e inteligência artificial, ou seja, em sua firme transição de Telco para TechCo.

Muito além da capacidade de investimentos está o posicionamento em um mercado cada vez mais imerso em dados e conteúdos contextuais, o que impõe uma ampla cooperação entre empresas que disponham de acesso a dados relevantes de clientes, empresas e ambientes. E, este é o grande desafio das operadoras que mantêm amplo domínio tecnológico sobre as suas redes e assinantes, porém não são nativas do mercado digital de dados, como as grandes plataformas de conteúdo.

Ao visitar os estandes de operadoras como a KT, Deutsche Telekom e Telefonica, é possível continuar acreditando nesta enorme capacidade de domínio tecnológico para ampliar a eficiência das redes de forma cada vez mais autônoma e otimizada além de traduzir e responder às demandas do mercado, porém a cooperação entre operadoras e plataformas se tornará um ativo fundamental em um mundo conectado e interativo, entre humanos, objetos, ambientes e AGENTES DE IA.

(*) Hermano Pinto é diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom.

O Futurecom contou com a participação de especialistas da área de tecnologia, telecomunicações e conectividade para apresentar ao mercado nacional os principais insights, mapeamento e análises das tendências do maior evento de tecnologia móvel do mundo, o MWC – Mobile World Congress Barcelona 2025. 

Com o tema Os “game changers” para o Brasil – Tropicalizando tendências de Barcelona para o nosso mercado, o Pós-MWC Barcelona by Futurecom 2025 será realizado no dia 27/03 às 15h30, de forma híbrida. Inscreva-se para o evento on-line!