A agricultura está passando por uma transformação silenciosa, mas poderosa. Conhecida como Agricultura 4.0, essa revolução está redesenhando a forma como produzimos alimentos, fibras e energia. No centro dessa mudança está a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), que conecta equipamentos, sensores e dados, permitindo que os agricultores tomem decisões baseadas em informações precisas e em tempo real. Essa integração tecnológica não apenas aumenta a produtividade e a eficiência, mas também promove a sustentabilidade no campo.
A IoT conecta sensores, máquinas, drones e sistemas de gestão, formando uma rede integrada que coleta, processa e analisa dados continuamente. Com isso, torna-se possível monitorar e controlar condições do solo e do clima, ajustar a irrigação e a fertilização, identificar estresse hídrico, pragas ou doenças em lavouras e otimizar o uso de tratores e colheitadeiras, reduzindo desperdícios e custos.
Um exemplo é o Projeto Fazenda Conectada, localizado em Água Boa (MT). A iniciativa da Case IH, em parceria com a TIM e conectividade 4G LTE, demonstrou como a tecnologia pode aumentar a produtividade mesmo em regiões de alto rendimento. De acordo com estudo da Agricef e da Unicamp, a safra 22/23 foi 18% mais produtiva em relação à anterior e 13,4% acima da média nacional. O uso de colheitadeiras conectadas reduziu o tempo de motor ocioso em 5,7%, aumentou o tempo de trabalho em 4,2% e encurtou a janela de colheita em três dias. A gestão em tempo real da frota gerou economia de 25% no consumo de combustível, o equivalente a mais de R$ 300 mil, além de reduzir em 10% as emissões de carbono na produção de soja.
O avanço da Agricultura 4.0, no entanto, depende diretamente da conectividade rural. Para medir esse progresso, a ConectarAGRO e a Universidade Federal de Viçosa criaram o Indicador de Conectividade Rural (ICR). Segundo os dados mais recentes, de 2025, somente 33,9% da área disponível para uso agrícola tem cobertura 4G ou 5G. Entre os imóveis rurais brasileiros têm cobertura 4G ou 5G em toda área de uso agropecuário, o número é de 48,1%.
Apesar dos desafios, experiências como as da Jalles Machado, em Goianésia (GO), e da Adecoagro, no Mato Grosso do Sul, mostram o impacto positivo da conectividade. A primeira obteve ganhos em monitoramento em tempo real, agilidade na colheita e sustentabilidade com menor uso de diesel, enquanto a segunda levou conectividade a 1 milhão de hectares, integrando operações, reduzindo deslocamentos e promovendo inclusão digital em comunidades.
O Brasil, como um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, tem um papel estratégico na segurança alimentar global. Para atender à crescente demanda de forma sustentável, é essencial aumentar a produtividade sem ampliar desproporcionalmente a área plantada. Nesse contexto, a Agricultura 4.0, impulsionada pela conectividade e pela IoT, surge como a chave para garantir eficiência, competitividade e preservação ambiental no futuro do agronegócio.

*Paola Campiello é Presidente da Associação ConectarAGRO e Gerente de novos negócios com foco em soluções de conectividade na CNH, com atuação na América Latina. É graduada em Engenharia Elétrica pela Universidade São Judas Tadeu, pós-graduada em Administração e Gerenciamento pela Business School São Paulo (BSP) e com MBA em Liderança e Gerenciamento de Pessoas pela Escola Conquer.
Com passagens por empresas líderes do setor, Paola desempenhou papéis estratégicos, como Gerente de Pré-Vendas na TIM Brasil, onde liderou equipes e desenvolveu projetos de transformação digital para o setor agropecuário brasileiro. Sua experiência inclui ainda contribuições significativas em empresas de telecomunicações, em que foi fundamental no planejamento e implementação de infraestrutura de rede e soluções de tecnologia.