A corrida pela eficiência em inteligência artificial (IA) chegou definitivamente à nuvem brasileira. À medida que cada vez mais aplicações corporativas incorporam funções de inteligência artificial, provedores de nuvem nacionais intensificam investimentos em infraestrutura com GPU para IA.

Mais do que um movimento técnico, trata-se de uma mudança estratégica de posicionamento. Os provedores que compreendem o valor da computação acelerada por GPU conquistam protagonismo em um mercado que já movimenta bilhões e dita o ritmo da próxima década digital.

Uma análise do site AItools, reforça esse avanço: o Brasil registrou 468,6 milhões de visitas a sites de IA em fevereiro de 2025, o que representa 3,9% do tráfego global ou a quarta posição.

Os Estados Unidos lideraram, com 16,1% do total. Globalmente, as visitas a ferramentas de IA cresceram 36,3% em relação a 2024, ultrapassando 101 bilhões de acessos em mais de 10.500 plataformas.

Computação em nuvem e IA: o ritmo brasileiro começa a acelerar

Enquanto o mercado americano mantém vantagem de dois a três anos, o Brasil dá sinais de aceleração. Um exemplo do setor público vem do Serpro, que pretende triplicar sua capacidade de GPU até o final de 2025. O plano integra um investimento federal de R$ 700 milhões, voltado à expansão da nuvem do Governo e à consolidação da soberania digital.

No setor comercial a AbraCloud aponta que 86% dos provedores de serviços de nuvem associados comercializam serviços para pessoas jurídicas; e destes 38% responderam já contar com ofertas IaaS para IA ou GPU. Embora ainda em estágio inicial, essa evolução indica uma tendência dos provedores locais em competir com players internacionais nesse nicho de computação acelerada por GPU.

O cenário americano como espelho do futuro brasileiro

Nos Estados Unidos, a IA já está enraizada nas operações corporativas, e já está em plena adesão por pequenas e médias empresas. A recente pesquisa da empresa de ferramentas de automação de marketing digital americana Thryv mostra que o uso de IA entre companhias com 10 a 100 funcionários cresceu de 39% em 2024 para 55% em 2025, um salto de 41% em apenas um ano. 80% das pequenas empresas americanas consideram a IA essencial para conquistar novos clientes. O otimismo é maior entre empresas de serviços e profissionais liberais: 70% enxergam a IA como vantagem competitiva para enfrentar períodos de incerteza econômica.

A pesquisa da Thryv foi realizada entre 4 e 14 de maio de 2025 e contou com a participação de 540 pequenas e médias empresas nos Estados Unidos, contando com entre 1 e 100 funcionários e apresentavam faturamento anual entre US$ 100 mil e US$ 9,9 milhões.

Essas evidências mostram que a IA é hoje um componente estrutural do modelo de negócios americano. E, como historicamente ocorre, o comportamento tecnológico dos EUA tende a antecipar os movimentos do mercado mundial.

Por que as GPUs são o núcleo da nova onda de inovação

As GPUs sustentam a execução de modelos complexos de machine learning e deep learning, pois realizam cálculos paralelos com velocidade superior às CPUs. Quando integradas a serviços de nuvem, permitem escalar recursos sob demanda, garantindo desempenho e controle financeiro.

Esse modelo democratiza o acesso à IA. Assim, startups e grandes corporações podem inovar com base em infraestrutura flexível e custo variável. Dessa forma, os provedores deixam de ser apenas fornecedores de hospedagem e passam a atuar como parceiros estratégicos, apoiando empresas em sua jornada de digitalização.

A janela histórica de oportunidade para os provedores nacionais

O avanço norte-americano serve de referência e de alerta. Enquanto as pequenas empresas nos EUA consolidam o uso de IA, o Brasil inicia um ciclo de expansão impulsionado pela adoção de GPUs e data centers dedicados.

Dizem que a revolução da IA tende a ser ainda maior que a da internet, portanto, provedores que se anteciparem agora podem definir o padrão do mercado nacional nos próximos anos.

A combinação entre demanda crescente, infraestrutura fortalecida e maturidade empresarial cria terreno fértil para inovação local. No entanto, quem adiar investimentos corre o risco de perder relevância, assim como ocorreu com empresas que subestimaram a internet em seus primórdios.

Rafael Fonseca é Vice Presidente de Associados da AbraCloud e diretor da Servla Data Center.