A recente Medida Provisória (MP) que institui o Regime Especial de Tributação para Serviços de Data Center (Redata) marca um ponto de inflexão para a infraestrutura digital do Brasil. Vinculada à Política Nacional de Data Centers (PNDC) e à Nova Indústria Brasil (NIB), a medida tem como objetivo ampliar a capacidade nacional de armazenagem e processamento de dados, impulsionando setores estratégicos como inteligência artificial, computação em nuvem e Internet das Coisas.
No entanto, essa expansão depende de um recurso essencial: energia. Não qualquer energia, mas energia limpa, confiável e escalável, o que coloca o setor de renováveis no centro dessa transformação. A dimensão desse desafio fica clara em pesquisas de mercado. Segundo o estudo Global Data Center Market Comparison 2024, da Cushman & Wakefield, o Brasil lidera a expansão de centros de dados na América Latina, mas a crescente demanda energética representa desafios em polos como São Paulo. Em contrapartida, de acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), o Brasil já figura entre os dez maiores produtores mundiais, e 93% da eletricidade gerada no país em 2023 teve origem em fontes renováveis, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Impulsionado pelo Redata, o país tende a viver uma demanda exponencial por novos projetos de geração e transmissão. Isso significa acelerar a construção de parques solares e usinas eólicas para garantir o fornecimento de energia limpa e estável que essas infraestruturas exigem, consolidando uma agenda de digitalização atrelada à sustentabilidade.
Projetos de energia renovável são marcados por cronogramas acelerados, em que cada dia de atraso representa perdas financeiras e riscos contratuais relevantes. Nesse contexto, a digitalização da gestão de projetos e obras se torna uma necessidade estratégica. A integração e automação dos fluxos de informação permitem otimizar tanto o acompanhamento de contratos quanto a execução em campo, com apoio de aplicativos móveis, drones e nuvens de pontos que oferecem precisão e agilidade.
Outro aspecto essencial é o uso de plataformas de gestão no modelo SaaS (Software as a Service), que possibilita o acesso a soluções avançadas sem necessidade de imobilizar capital em tecnologia. Essa flexibilidade é particularmente adequada às Sociedades de Propósito Específico (SPEs), recorrentes na construção de usinas, pois reduz riscos e garante previsibilidade de custos. Além disso, a digitalização também alcança áreas de apoio como jurídico e recursos humanos, permitindo operações mais enxutas e competitivas. Ao eliminar burocracias e retrabalhos, as empresas ganham eficiência para responder a um mercado dinâmico e pressionado por prazos.
Essa maturidade tecnológica já é reconhecida por grandes players do setor e por fundos de investimento, que buscam soluções capazes de mitigar riscos em projetos de infraestrutura energética. A integração digital não apenas assegura eficiência operacional, mas também viabiliza modelos de negócio mais flexíveis e sustentáveis, preparados para responder à velocidade que o mercado exige.
A MP do Redata é impulso para uma nova era na infraestrutura digital e energética do Brasil. Contudo, para que os data centers prosperem, será preciso construir, literalmente, as fundações energéticas que os sustentarão. Empresas de energia que investirem em novas operações precisarão de parceiros tecnológicos que ofereçam soluções robustas e comprovadas para a gestão de seus projetos. A digitalização mitiga riscos, garante o cumprimento de prazos e assegura que a expansão da nossa capacidade digital seja construída sobre uma base eficiente, sustentável e, acima de tudo, inteligente.

*Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
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