O consumo energético sempre foi uma das principais dores de cabeça para operadores de data centers. Esses centros de processamento de dados, essenciais para a operação de empresas em todos os setores da economia digital, têm na energia elétrica uma de suas maiores despesas operacionais.
Diante desse cenário, a migração para o mercado livre de energia tem se consolidado como uma alternativa estratégica para reduzir custos, ampliar a competitividade e impulsionar compromissos com sustentabilidade.
Para entender melhor como o mercado livre pode beneficiar os data centers brasileiros, o Futurecom Digital conversou com Sidney Simonaggio, engenheiro eletricista, advogado, fundador da Simonaggio Soluções Empresariais e atualmente à frente do escritório Carpena Advogados Associados (RS), especializado em regulação energética. Acompanhe a seguir!
O que é o mercado livre de energia?
Antes de tudo, é preciso compreender o funcionamento do mercado de energia no país. Simonaggio explica que a energia elétrica, de modo geral, é composta por dois componentes: o insumo propriamente dito e os fios que o transportam.
“Chama-se mercado cativo quando o consumidor se relaciona apenas com o seu distribuidor, que o conecta aos fios e também repassa a energia que comprou. Já no mercado livre ocorre o desacoplamento das funções de conexão e de suprimento”, detalha.
Ou seja, no modelo livre, o consumidor pode negociar diretamente com os geradores a energia que vai consumir, mantendo-se conectado à rede de distribuição local. O principal benefício é a liberdade de escolha.
“É o consumidor quem decide de quem vai comprar energia, e o preço é livremente negociado entre as partes. Isso pode representar economia significativa, especialmente para quem consome muito, como os data centers”, complementa Simonaggio.
Quem pode migrar para o mercado livre de energia?
A boa notícia para os operadores de data centers é que a migração para o mercado livre já é viável para quase todos. Segundo o especialista, o requisito técnico principal é ter uma demanda mínima contratada de 500 kW, patamar bastante acessível para instalações de médio e grande porte.
“Essa exigência já foi de 3.000 kW há duas décadas, mas o avanço da regulação ampliou o acesso. E qualquer data center consome mais do que isso hoje em dia”, afirma.
Assim, o movimento de entrada de data centers no mercado livre é tanto possível quanto desejável.
Redução de custos e aumento da competitividade
O maior atrativo da contratação direta de energia está na economia. Para operações intensivas em energia elétrica, como as de data centers, qualquer redução nesse insumo representa ganho direto na margem de lucro ou na capacidade de oferecer serviços mais baratos.
“Os data centers são consumidores eletrointensivos. Reduzir a conta de luz pode ser decisivo para tornar o produto final mais competitivo”, pontua Simonaggio.
Além disso, o ambiente do mercado livre oferece maior previsibilidade de preços e contratos mais flexíveis, fatores cruciais para planejamento financeiro e mitigação de riscos em um setor que exige alta disponibilidade e segurança energética.
Energia limpa e metas de ESG
Outro diferencial do mercado livre é a possibilidade de contratar diretamente energia de fontes renováveis. Segundo Simonaggio, isso facilita o alinhamento dos data centers com metas ESG (ambientais, sociais e de governança), além de contribuir para certificações de sustentabilidade, cada vez mais exigidas globalmente.
“Por meio de um agente comercializador, o data center pode adquirir pacotes de energia solar, eólica, de biomassa, entre outras fontes, sem precisar negociar com cada produtor individualmente. Isso reduz a burocracia e amplia o acesso à energia verde”, destaca.
Como grandes consumidores, os data centers têm um impacto proporcionalmente elevado nas emissões. A adoção de energia limpa, portanto, não é apenas uma vantagem reputacional — é também uma responsabilidade ambiental.
Perspectivas: o futuro do mercado livre
De acordo com o especialista, o mercado livre de energia no Brasil está em plena expansão e tende a se tornar padrão. A tendência é que, no futuro próximo, todos os consumidores — inclusive os residenciais — possam negociar diretamente os seus contratos de fornecimento.
“O modelo cativo será progressivamente substituído por relações diretas entre consumidores e fornecedores. Isso representa uma mudança de paradigma”, projeta Simonaggio.
Para os data centers, essa evolução abre novas oportunidades, inclusive de gerar receita. Quando houver excedente de energia — por exemplo, em estruturas com geração própria — será possível revendê-la no mercado, gerando uma fonte de renda complementar.
“Além de comprar energia de forma mais barata, os data centers também poderão vender sobras, aumentando sua competitividade. Trata-se de uma nova lógica de gestão energética”, resume.
Preparar-se é estratégico
O momento, portanto, é de preparação. Para Simonaggio, os operadores de data centers devem investir em conhecimento regulatório, buscar parcerias com comercializadoras de energia e desenvolver estratégias de contratação alinhadas com suas metas operacionais e ambientais.
“Migrar para o mercado livre de energia deixou de ser uma opção e passou a ser uma vantagem competitiva real”, conclui.
É fato que, em ambientes cada vez mais sensíveis à sustentabilidade, os centros de dados não podem mais ignorar as oportunidades que a liberalização do setor elétrico oferece.
Energia mais barata, limpa e negociada sob medida, portanto, pode ser o diferencial que separa líderes de seguidores na nova economia da informação.
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