A disputa pela faixa de 6 GHz, que logo mais completa quatro anos, segue mais viva do que nunca.
Em 2021, a Anatel decidiu destinar esse espectro para uso não licenciado, permitindo que redes Wi-Fi utilizem tal faixa de frequência.
Essa decisão, embora tenha sido um marco, não trouxe total conforto para os que desejavam ver essa faixa destinada ao Serviço Móvel Pessoal (SMP).
Além disso, o uso imediato para redes domésticas ainda não se concretizou totalmente. Ocorre que os dispositivos compatíveis com a tecnologia começam a aparecer no mercado e, até agora, permanecem com um custo elevado.
Para esclarecer o cenário atual e as perspectivas futuras, entrevistamos Francisco Araujo Bomfim Junior, mestre em Tecnologia Nuclear, doutor em Engenharia Elétrica e professor do Senac EAD.
Ele trouxe as suas impressões sobre o tema e explicou o que esperar da faixa de 6 GHz nos próximos anos. Veja a seguir!
As principais características da frequência de 6 GHz
Francisco Bomfim destaca que a faixa de 6 GHz, que abrange de 5,925 GHz a 7,125 GHz, oferece uma largura de banda de 1200 MHz, o que permite até sete canais de 160 MHz.
"Apesar de ter um alcance menor, devido ao aumento das perdas durante a propagação, essa faixa proporciona menor interferência, já que ainda é pouco utilizada”, explicou o professor.
De acordo com ele, isso a torna ideal para aplicações que demandam alta capacidade de transmissão.
Essa característica faz da faixa de 6 GHz uma excelente candidata para suportar o crescimento da demanda por conectividade de alta qualidade.
Isso é visto, especialmente em ambientes densamente povoados, onde a interferência em outras faixas é uma preocupação constante.
Além disso, o professor Bomfim ressalta que essa faixa é estratégica para viabilizar novas aplicações que exigem alta largura de banda, como o streaming de vídeo em 4K e 8K, a realidade aumentada e virtual, e o uso intensivo de IoT em ambientes domésticos e industriais.
Wi-Fi ou redes móveis: uma escolha complexa
Um dos debates mais acirrados em torno da faixa de 6 GHz é a sua destinação para redes Wi-Fi ou para redes móveis.
Bomfim esclarece que a principal vantagem do uso da frequência de 6 GHz no Wi-Fi é a disponibilidade de uma maior largura de banda e um número maior de canais.
"Como essa faixa é ainda pouco utilizada, especialmente em redes Wi-Fi, ela oferece menor concorrência e interferência", afirmou.
Dispositivos modernos, compatíveis com o padrão Wi-Fi 6E, que suportam essa frequência, podem usufruir de velocidades de transmissão significativamente superiores às oferecidas pelo Wi-Fi 5.
"É como uma nova estrada com múltiplas faixas, onde apenas veículos de alta performance podem circular com pouca concorrência", comparou o professor.
Entretanto, a destinação da faixa para redes móveis também apresenta vantagens, especialmente no contexto de expansão da cobertura com a chegada do 6G.
A banda de 6 GHz poderia ser utilizada para aumentar a capacidade das redes móveis, oferecendo suporte a um número crescente de dispositivos conectados e garantindo a qualidade do serviço em áreas urbanas densamente povoadas.
A posição da Anatel e o futuro da faixa de 6 GHz
Francisco Bomfim nos lembra que, há dois anos, a Anatel liberou a faixa de 6 GHz para redes Wi-Fi, seguindo uma tendência internacional, como foi observado nos Estados Unidos.
"Atualmente, a faixa de 6 GHz está totalmente destinada a serviços não licenciados, como o Wi-Fi", confirmou.
No entanto, o cenário pode estar prestes a mudar. Em 29 de maio de 2024, a Anatel lançou uma consulta pública para discutir o compartilhamento da faixa de 6 GHz com o sistema de telefonia móvel.
Se a proposta for aprovada, a faixa de 5,9 GHz a 6,4 GHz (500 MHz) será destinada ao Wi-Fi, enquanto a faixa de 6,425 GHz a 7,125 GHz (700 MHz) será reservada para a telefonia móvel.
"Isso criaria regras mais rígidas, mas não impediria que regiões onde o 6 GHz não é adotado para telefonia móvel poderiam destinar toda a faixa ao Wi-Fi", explicou Bomfim.
Essa possível divisão da faixa de 6 GHz traz uma série de implicações para o futuro das telecomunicações no Brasil.
Se por um lado pode favorecer o avanço do 5G, oferecendo mais espectro para as operadoras móveis, por outro pode limitar a expansão das redes Wi-Fi de alta capacidade.
A área técnica da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) enviou ao conselho diretor a proposta que prevê a divisão do uso da frequência de 6 GHz entre o WiFi e a telefonia móvel, dando prosseguindo a uma possível revisão da destinação da faixa, informou o superintendente de Outorga e Recursos à Prestação, Vinícius Caram, durante o painel no evento Futurecom 2024.
A proposta não inclui as condições de uso de cada serviço, mas prevê 500 MHz da parte baixa da banda para o WiFi, enquanto o celular ficaria com os 700 MHz da parte alta da faixa.
O que esperar do futuro?
O uso da frequência de 6 GHz é um tema que continuará a gerar discussões acaloradas nos próximos anos.
No painel do Futurecom 2024, representantes dos setores de internet, banda larga e satélites criticaram a proposta da área técnica da Anatel.
Mauro Wajnberg, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Telecomunicações por Satélite (Abrasat), disse que a entidade “fica decepcionada com essa decisão”. Em sua argumentação, disse que a banda C, na qual diversos serviços por satélite estão alocados, terá dificuldades de conviver com o serviço móvel pessoal. Ainda ressaltou que é obrigação da Anatel garantir a funcionalidade dos serviços, sem interferências.
Eduardo Neger, presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet), defendeu a manutenção da destinação integral da faixa de 6 GHz para o WiFi, apontando efeitos prejudiciais ao serviço no futuro. “Isso impacta em degradação e perda de desempenho. Se não tiver a faixa toda, você não consegue ter desempenho tanto em velocidade quanto em latência”, asseverou.
Já a gerente da Área Regulatória, Jurídica e Institucional da Telcomp, Amanda Ferreira, disse que a entidade vai “debater, discutir e estudar o novo procedimento”. A associação também defende a integralidade da faixa para o WiFi.
Como ressalta Francisco Bomfim, "independentemente da destinação final, a faixa de 6 GHz é um ativo valioso que terá um impacto significativo no desenvolvimento de novas tecnologias e na expansão das redes existentes."
O professor também destaca que, enquanto as decisões regulatórias são discutidas, é importante que a indústria de tecnologia continue a investir em inovação para aproveitar ao máximo as oportunidades oferecidas por essa faixa de frequência.
"Os consumidores, por sua vez, devem estar atentos às mudanças e se preparar para adotar as novas tecnologias que irão surgir com o uso do 6 GHz, tanto em redes Wi-Fi quanto em redes móveis", concluiu.
Assim, à medida que o mercado se adapta e novas regulamentações são implementadas, o futuro da frequência de 6 GHz promete ser tão dinâmico quanto a disputa que a cercou nos últimos quatro anos.
Seja através de redes Wi-Fi ou móveis, o espectro de 6 GHz será uma peça chave na construção da próxima geração de conectividade, impactando diretamente a forma como nos conectamos e utilizamos a tecnologia no dia a dia.
O tema foi debatido no painel "Wifi x 6G? O que esperar do uso dos 6GHz", durante o Futurecom 2024.
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