Lançada no início deste ano pelo Governo Federal, a agenda Nova Indústria Brasil (NIB) tem incentivado empresas a criarem parcerias estratégicas e ampliar a competitividade do setor, que vive uma forte desaceleração no país nas últimas décadas.
Essa foi a conclusão do grupo de especialistas reunidos no painel “Neoindustrialização Brasileira: como impulsionar a inovação e competitividade da indústria brasileira”, mediado pelo superintendente de Política Industrial da CNI, Fabrício Silveira, durante o Futurecom 2024.
Uma das participantes foi Rosilda Prates, presidente da P&D Brasil e que também integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social do Governo Federal, conhecido como “Conselhão”. Segundo ela, é fundamental aumentar o desenvolvimento de tecnologias e inovações locais na área de dispositivos e componentes de Tecnologia da Informação e Telecomunicações.
“Por fazer parte do Conselhão, eu posso atestar que o impulsionamento da cadeia industrial está sendo discutido em várias frentes no Governo Federal, além do setor privado. A NIB trouxe uma janela de oportunidade que não tínhamos havia muito tempo. Temos uma fixação em investimento estrangeiro, mas essa verba precisa fazer a diferença no nosso posicionamento estratégico, e que inteligência desenvolvida no Brasil fique aqui. E claro, com uma pegada de carbono menor”, afirmou Rosilda Prates.
Uso de IA na indústria brasileira ainda é tímido
Mesmo com essas iniciativas, a indústria brasileira vem perdendo relevância nas últimas décadas, tanto em termos de participação no PIB quanto em competitividade global. Para João Paulo Pieroni, diretor de Desenvolvimento Produtivo e Inovação do BNDES, a crescente complexidade dos processos industriais, associada à falta de investimentos em tecnologia e inovação, tem sido um dos principais desafios para o setor.
“O Brasil busca hoje criar uma cultura industrial mais inovadora, digital, verde, exportadora e, ao fim, com mais competitividade. São sobre esses pilares que as instituições de fomento federais, como o BNDES, organizaram o braço financeiro da NIB que é o plano ‘Mais Produção’, voltado a organizar as linhas de financiamento de diferentes instituições internacionais, e também coordenar as ações com regras de conteúdo local”, afirmou o diretor do Banco.
Nesse contexto, o uso de inteligência artificial pode ser um dos principais motores para impulsionar a competitividade. De acordo com o diretor da Inatel, Carlos Nazareth Motta Marins, a economia digital se tornou um fator chave para que as indústrias nacionais integrem tecnologias emergentes e se conectem de maneira mais eficiente com o mercado global, alavancando o crescimento do setor.
“Inevitavelmente todas as cadeias brasileiras vão precisar usar a IA. Segundo números do IBGE, 85% das empresas nacionais da indústria já usam tecnologia avançada, mas apenas 17% incluem ferramentas de inteligência artificial. Essa tecnologia precisa de uma estrutura que a torne viável, e os setores público e privado precisam se unir para classificar as verticais prioritárias para receber investimento, elencando as cadeias produtivas dentro do cenário nacional, como o agronegócio e a mineração”, explicou o diretor da Inatel.
Já para Ariela Zanetta, assessora da presidência do Conselho da Brasscom, a economia digital não é mais o futuro. “Estamos falando de uma realidade dada do presente, e que também não está mais no departamento de TI – é transversal e tem impacto em todos os setores, além de ter se tornado uma cultura. A Brasscom, por exemplo, desenvolveu o plano Brasil Digital 2030+, com metas claras para chegarmos na próxima década em condições de competir com players mundiais”.
Como o Pacto Global da ONU pode ajudar o Brasil
Outro ponto discutido no painel foi o alinhamento do Brasil com iniciativas globais como o Pacto Global da ONU, que estabelece metas de sustentabilidade e responsabilidade social para as empresas. Quem tratou desse tema foi Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, que considerou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da organização (ODS) como crucial para que o setor industrial brasileiro se mantenha competitivo e alinhado às demandas globais, ao mesmo tempo em que contribui para a preservação do meio ambiente e a redução da desigualdade social.
“O Pacto Global é uma área da ONU voltada às empresas, que no final de 1990 enfrentavam desafios como a corrupção, a violação de direitos humanos e os desastres ambientais. O Brasil tem 50 anos de experiência com energias renováveis como o etanol, por exemplo, muito mais que outros países do G20. Para capturar todas essas oportunidades, precisamos monitorar as ações e a avalanche de legislações na Europa e EUA, mostrando que o nosso país tem uma pequena pegada de carbono e uma grande inclusão social, e que isso se reflita nos produtos e serviços oferecidos”, pediu Carlo Pereira.
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