A aplicação da inteligência artificial na segurança pública tornou-se a resposta estratégica para a complexidade da criminalidade moderna. Mais do que força ostensiva, o combate ao crime exige inteligência de dados para que o Estado esteja um passo à frente de organizações que já operam com alta tecnologia.
Nesse cenário, a inovação deixa de ser apenas uma tendência para se consolidar como o grande diferencial de eficiência governamental.
Segundo projeções da The Business Research Company, o mercado global de IA para segurança pública e proteção deve alcançar a marca de US$ 21,18 bilhões em 2025, crescendo a uma taxa anual composta (CAGR) de quase 30%, impulsionado pela necessidade de eficiência operacional e redução de custos.
Mas, para além dos números de mercado, o que importa para o gestor público é o resultado nas ruas. Por isso, confira desde os fundamentos técnicos até casos práticos, como o pioneirismo da Bahia e o projeto Muralha Paulista, e veja como implementar essas soluções de forma ética e eficaz.

Quais são os fundamentos da inteligência artificial na segurança pública?
Ao contrário do que a ficção científica sugere, a IA na segurança não se trata de robôs autônomos patrulhando ruas. Trata-se de uma capacidade massiva de processamento de dados. O objetivo é transformar terabytes de imagens, áudios e registros brutos em intelligence acionável para as forças policiais.
Para que um software de IA para segurança pública funcione, ele geralmente opera baseado em um tripé tecnológico:
- Visão computacional: algoritmos que permitem às câmeras “entenderem” o que estão filmando. Elas podem identificar automaticamente uma arma na mão de um suspeito, ler uma placa de veículo (LPR) ou detectar um comportamento anômalo, como alguém correndo em uma multidão parada.
- Machine Learning: o aprendizado de máquina analisa históricos criminais para identificar padrões que o olho humano não perceberia, prevendo manchas criminais com base em dados.
- Processamento de Linguagem Natural – PLN: tecnologias capazes de transcrever chamadas de emergência (190) e relatórios em tempo real, categorizando ocorrências e agilizando o despacho de viaturas.
Essas tecnologias não operam isoladas. O segredo da eficiência está na orquestração desses dados em dashboards unificados, permitindo que comandantes tomem decisões baseadas em fatos, e não em intuição.
Saiba mais: Como implantar uma solução de IA para vigilância inteligente no setor público brasileiro
Aplicações da IA na segurança pública e casos de sucesso
A tecnologia já superou a fase de testes e é uma realidade operacional no Brasil. A combinação entre infraestrutura de conectividade e algoritmos avançados tem entregado resultados quantificáveis, auxiliando na recuperação de veículos e na captura de foragidos da justiça.
Bahia como referência no reconhecimento facial
A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) tornou-se um dos maiores cases globais de uso de biometria em grandes eventos. O sistema foi desenhado para atuar em cenários de altíssima complexidade, como o Carnaval de Salvador e as festas de São João.
Até o início de 2024, a ferramenta já havia auxiliado na captura de mais de 1.250 foragidos da Justiça, número que continua crescendo exponencialmente a cada ciclo festivo e expansão do sistema para novas cidades.
O sucesso da operação reside no uso de soluções de reconhecimento facial para órgãos públicos que cruzam, em frações de segundo, a imagem capturada pelas câmeras com o Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).
O sistema identificou desde homicidas até devedores de pensão alimentícia, provando ser uma ferramenta de triagem indispensável.
Programa Muralha Paulista no controle da mobilidade criminal
Enquanto a Bahia foca na identificação pessoal, o Governo de São Paulo aposta na conectividade e no cerco a veículos com o projeto “Muralha Paulista“. Este é um exemplo clássico de sistemas inteligentes para monitoramento urbano aplicados em escala estadual.
A meta do programa é integrar câmeras de monitoramento de cerca de 500 municípios. O conceito é criar um “cerco digital”: se um veículo roubado ou envolvido em um crime sai de uma cidade pequena e entra em uma rodovia ou na capital, o sistema unificado alerta as forças policiais em tempo real.
A interoperabilidade dos dados impede a fuga interestadual e recupera ativos com maior rapidez, dependendo fundamentalmente da infraestrutura de Cidades Inteligentes para funcionar.
Córtex: a IA da Polícia Federal e o Policiamento Preditivo
No nível federal, o destaque é o Córtex, plataforma de inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
Diferente dos sistemas de ponta (câmeras), o Córtex foca no Big Data. Ele realiza o cruzamento massivo de trilhas de dados (leituras de placas, CPFs, registros de boletins e passagens aéreas) para acelerar investigações complexas contra o crime organizado.
Paralelamente, o uso de IA permite o policiamento preditivo através da análise da “Mancha Criminal Dinâmica”. Algoritmos analisam variáveis como clima, dia da semana, horário e histórico local para indicar a probabilidade de ocorrências.
Se o sistema aponta que há 80% de chance de ocorrer um roubo em determinada esquina nas próximas duas horas, o gestor pode alocar uma viatura preventivamente, otimizando recursos limitados.
Veja também: Segurança pública inteligente e a proteção de dados do cidadão
Como implementar a inteligência artificial na segurança pública?
A modernização das forças de segurança não acontece apenas com a compra de software; ela exige uma reestruturação da infraestrutura tecnológica.
| Tema | Descrição |
|---|---|
| Conectividade e 5G | Não existe IA eficiente sem transmissão de dados robusta. O uso de reconhecimento facial e análise de vídeo em tempo real exige baixa latência, tornando o 5G um pré-requisito para operações críticas. |
| Armazenamento Seguro | A gestão de Data Lakes seguros é essencial para armazenar petabytes de vídeos probatórios, garantindo a cadeia de custódia digital. |
| Integração de Legado | Um dos maiores desafios é conectar novas soluções com centrais 190 antigas e rádios analógicos. A interoperabilidade deve ser obrigatória na contratação de IA para vigilância governamental. |
| Custo vs. ROI | Embora o investimento inicial seja alto, o ROI surge na redução de custos operacionais, na maior eficácia policial e no aumento da sensação de segurança, impactando turismo e economia local. |
Confira: Tecnologia policial: quais são as tendências em segurança?
Os desafios éticos, legais e sociais
Para o gestor público, entender os riscos é tão importante quanto entender os benefícios. O uso indiscriminado de tecnologia pode gerar passivos jurídicos e crises de reputação.
O viés algorítmico é uma preocupação central. Se os bancos de dados usados para treinar a IA (datasets) não forem diversos, o sistema pode gerar falsos positivos, especialmente em populações minoritárias.
É crucial que as tecnologias de IA para policiamento preventivo sejam auditadas constantemente para evitar que preconceitos estruturais sejam automatizados.
Além disso, a privacidade e a regulação são pilares inegociáveis. A aplicação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) na esfera penal e as diretrizes do Ministério da Justiça exigem transparência no tratamento desses dados.
O monitoramento deve focar na segurança do cidadão, garantindo a proteção de dados sensíveis e a segurança cibernética de todo o ecossistema.
O futuro da tecnologia na segurança pública
Caminhamos para um modelo de segurança onde a responsabilidade (accountability) é compartilhada entre humanos e máquinas. O conceito de “Human-in-the-loop” (humano no comando) deve prevalecer: a IA sugere e analisa, mas a decisão final de uma abordagem ou prisão deve ser sempre de um agente capacitado.
Ao escolher um fornecedor de inteligência artificial para segurança pública, gestores devem priorizar empresas que adotam o Ethics by Design.
Olhando para frente, tendências como a IA Generativa para simulação de cenários de crise e o treinamento de policiais em Realidade Virtual (VR) já começam a desenhar a próxima fronteira da preparação policial.
A tecnologia é inevitável, mas deve ser governada com rigor. A segurança pública do futuro será integrada, inteligente, mas acima de tudo, cidadã.
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