A crescente presença das lawtechs e das legaltechs no cenário jurídico brasileiro tem sido um ponto interessante na tentativa de mitigar os obstáculos e a morosidade enfrentados no processo judiciário.
Apesar dos avanços proporcionados por tecnologias, como sistemas integrados e Inteligência Artificial, a análise judicial no Brasil ainda é prejudicada por uma complexa burocracia, evidenciada no relatório do Conselho Nacional de Justiça de 2020.
O tema foi debatido no Futurecom 2023 por especialistas, que discutiram as experiências adquiridas até o momento e o potencial ainda a ser explorado. Participaram do encontro:
- Eduardo Carboni Tardelli: CEO da Uplexis e conselheiro da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L);
- Pedro Ciccone: sócio do Caminha Barbosa Siphone Advogados; e
- Victor Aracaty: CEO da KOR Solution.
O encontro teve como mediador Arthur Braga Nascimento, diretor jurídico da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (ABRIA). Veja mais a seguir!
A importância da habilidade intelectual na diferenciação profissional do advogado
Eduardo Carboni Tardelli, CEO da Uplexis e conselheiro da AB2L, destacou a acelerada transformação da advocacia diante do avanço das ferramentas de legaltech e da crescente demanda por correlação cognitiva.
Em seu discurso na plenária, ele enfatizou: “A advocacia está passando por uma transformação enorme, principalmente com as ferramentas de LLM e a necessidade de consumir muito texto, realizar correlações cognitivas.”
Ao analisar o futuro da profissão, Tardelli ressaltou que a tecnologia não eliminará os advogados, mas os instigará a se adaptarem às mudanças.
Ele prevê a emergência de novas categorias do Direito e a criação de legislações para acompanhar o avanço tecnológico.
“Muitos advogados estarão do lado da tecnologia, produzindo e utilizando-a intensamente, enquanto outros podem ficar para trás”, observou.
Ele apontou ainda que, quanto mais operacional for o trabalho de um advogado, mais suscetível estará à substituição pela tecnologia. Porém, destacou a importância da habilidade intelectual na diferenciação profissional.
“Estamos passando por essa transformação, onde o Direito está sendo extremamente impactado, especialmente pelas novas gerações que chegam ao mercado sem experiência e que também enfrentarão grandes mudanças”, concluiu.
O impacto da automação nas atividades operacionais do campo jurídico
Em sua fala, Victor Aracaty, CEO da KOR Solution, discutiu o impacto da automação nas atividades operacionais do campo jurídico e o surgimento de novas oportunidades estratégicas para os advogados.
“A parte mais operacional realmente vai dar espaço à automação. Por questão de otimização, o advogado vai passar a ter que desempenhar uma atividade mais estratégica. Toda a tecnologia que tira uma profissão, faz com que surjam outras dez”, refletiu.
Aracaty também analisou o papel do ChatGPT como uma ferramenta fantástica, mas que requer habilidades específicas para ser efetivamente utilizada.
Ele fez uma analogia com o surgimento dos copywriters no passado, sugerindo que novas profissões, como desenvolvedores de prompts, podem emergir.
“Da mesma forma que o copywriter teve um ‘boom‘, talvez daqui a cinco anos, os advogados se especializem no desenvolvimento de prompts para lidar com grandes volumes de processos”, expressou.
O palestrante também vislumbrou um cenário em que um único advogado, com a ajuda da tecnologia, poderia gerenciar milhares de processos, obtendo resultados até melhores do que os alcançados atualmente.
Esse movimento indicaria uma mudança na forma como o trabalho jurídico é realizado, trazendo um viés estratégico para a profissão.
Novas tecnologias e o futuro da advocacia
Pedro Ciccone, sócio do Caminha Barbosa Siphone Advogados, compartilhou suas impressões sobre o impacto da tecnologia na prática jurídica, evidenciando uma mudança significativa no modo como os advogados realizam seu trabalho.
“A primeira vez que eu utilizei o ChatGPT, eu não dormi. Eu não dormi naquela noite pensando o quanto aquela nova tecnologia iria agregar em todas as relações humanas e de trabalho”, confessou.
Ciccone reconheceu que as tecnologias não estão destinadas a eliminar, mas sim transformar o futuro da advocacia. Ele disse que o modo de atuar como advogado já passou por uma reconfiguração.
O advogado realçou a mudança na tomada de decisão, que agora se baseia cada vez mais na análise de dados.
Ele destacou ainda a transformação na análise de casos trabalhistas, onde a decisão de fechar ou não um acordo não é mais unicamente baseada na lei, mas sim na estatística jurisprudencial da vara em questão. Essa mudança, segundo Ciccone, já é uma realidade na prática jurídica atual.
Para saber mais sobre os impactos dessas transformações tecnológicas no campo jurídico, acesse a plataforma exclusiva do Futurecom 2023 e assista à palestra completa!